Depressão & Cinema: A Trilogia da Depressão de Lars von Trier



Uma das formas de tentar entender a vida é através da arte, afinal a arte imita a vida. Ou será que à vezes não é a vida que imita a arte? O cinema é uma das linguagens que pode ajudar a retratar as dificuldades de quem tem depressão, arrisco a dizer que talvez a 7º arte seja a mais próxima de representar a vida da maneira como ela “é”. Sabemos que nossa própria realidade é representativa. Dito isto, vamos a lista:


Desta vez, vamos abordar o que chamam de “Trilogia da Depressão”, filmes dirigidos pelo diretor dinamarquês Lars von Trier mas que não tem relação entre eles, tirando o tema. Devo adiantar que Lars é uma figura polêmica, e apesar da qualidade de seus trabalhos, algumas abordagens podem ser extremamente desagradáveis, portanto nenhum dos três trabalhos tem um final feliz, mas trazem algumas críticas e reflexões. Vamos lá:


Anticristo




O primeiro filme da “Trilogia” e o mais polêmico da carreira de von Trier, foi lançado em 2009, concorreu à Palma de Ouro de Cannes e chegou a ser proibido em algumas salas de cinema na França. Escrito pelo diretor quando estava passando por depressão, o filme transborda de símbolos que vão de imagens religiosas a construções freudianas, sendo talvez um dos motivos de deixar a crítica dividida. É um filme denso e pesado que não deve ser visto por qualquer pessoa. Um casal que sofre a perda recente do único filho enfrenta a depressão. Na tentativa de enfrentar a doença, o marido que é psicanalista tenta tratar a esposa, levando-a ao Éden, uma floresta cheia de significados para ela. Mas essa investigação psicológica desemboca acontecimentos devastadores. 
A leitura do crítico de cinema Pablo Villaça é uma colher cheia pra quem assistir e quiser tentar entender a simbologia construída.  


Melancolia




Lançado em 2011, talvez seja o filme que primeiro vem à mente quando se fala de cinema e depressão. Aqui von Trier usou da sensibilidade para a construção do filme,sob uma perspectiva mais poética do que ele costuma usar. O filme retrata o relacionamento de Justine, acometida pela depressão, com sua irmã Claire, que tenta ajudar, mas que não sabe lidar com o estado psicológico da irmã. A aproximação do cometa Melancolia é uma metáfora para o profundo e patológico sentimento de tristeza de Justine, que nega sua condição e chega a se desculpar por se sentir assim. Também carrega símbolos, não tão complexos como em Anticristo. A exemplo da cor azul do cometa ao ser refletida na Terra, retratando o sentimento melancólico de Justine. O filme é uma boa crítica à moralidade social que muitas vezes pressiona pessoas que estão sofrendo com a condição à vestir máscaras e suprir as expectativas sociais.


Ninfomaníaca

Vol 1. 

Vol. 2


Foi dividida em duas partes que foram lançadas em 2014 mais um trabalho polêmico e impactante de Lars, é impactante. Aqui fica evidente a obsessão de Lars com a sexualidade feminina, gerando críticas que compararam os filmes com porno, devido a hiper-sexualização da personagem. O filme chegou a ser proibido na Turquia. Joe é encontrada machucada em um beco por um senhor, que ouve suas histórias sexuais. Ela admite ser ninfomaníaca e não se considera uma boa pessoa. O quadro de ninfomania da personagem acompanha um perfil psicopatológico complicado que se desenrola junto com a trama.


BÔNUS!
Depois de tantos filmes pesados, quero deixar um filme mais leve e alegre, nada menos que: 


Pequena Miss Sunshine



Lançado em 2006, dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, o longa é uma mistura de drama e comédia deliciosamente dosada. Foi indicado para quatro categorias do Oscar: melhor filme, melhor atriz para Abigail Breslin, melhor ator coadjuvante para Alan Arkin e melhor roteiro original, levando as últimas duas estatuetas. Que nem toda família é perfeita nós sabemos, mas a família Hoover é um tanto quanto peculiar. O pai é autor de um fracassado método de auto-ajuda, o irmão mais velho se revolta com a sociedade e faz voto de silêncio, o tio é um professor suicida e o avô foi expulso de uma casa de repouso por usar heroína. Tudo é um caos até a desajeitada e meiga Olive ser convidada para participar de um concurso de beleza. Eles deixam todas as suas diferenças de lado e atravessam o país numa Kombi enferrujada. O SPDM diz:
“A depressão que é abordada com o personagem Frank, um homem amargurado com seu fracasso e que tentou acabar com a própria vida, nos faz pensar sobre as consequências de determinadas ações em nossas vidas e em como a família pode nos ajudar quando passamos por momentos difíceis. [...] Os conceitos de fracasso e sucesso e o culto aos padrões de beleza também são muito explorados. O pai de Olive insiste que é preciso vencer, estar em primeiro lugar para ter sucesso e que é uma vergonha perder, enquanto, na verdade, a garota só quer se divertir. A reflexão que fica é que a vida não é feita apenas de conquistas, mas de derrotas também e, o mais importante, de tentativas. Além disso, é ácida a crítica ao concurso de beleza, que incentiva a competição entre meninas e acaba promovendo a adultização precoce.
Ao longo da trama, é notável como todos se aproximam e estreitam os laços familiares, como se percebessem que ninguém precisa estar sozinho em situações delicadas. A Kombi amarela torna-se um símbolo da união, já que ela só funciona quando todos se juntam para empurrá-la”


BÔNUS 2
Outros filmes indicados ao tema: 
- Se enlouquecer, não se apaixone;
- As vantagens de ser invisível;
- Cake, uma razão para viver;

Drica, Grupo Depressão




Referências: Filmow; Cinema em Cena; Adoro Pipoca; Associação Paulista Para o Desenvolvimento de Medicina; OGlobo; Superela;
Imagem: Cineplot

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