A cocaína é uma substância capaz de
estimular o sistema nervoso central, causando aceleração do pensamento,
inquietação psicomotora, aumento do estado de alerta, inibição do apetite,
perda do medo e sensação de poder. No entanto, as sensações agradáveis por ela
proporcionada duram curto período de tempo, e após seus efeitos, a pessoa pode
ser levada a um estado de depressão, necessitando de outras doses da droga para
ter a sensação que está saindo deste estado. A cocaína pode ser aspirada,
injetada ou fumada (sob a forma de crack). Seu uso contínuo pode levar a sérias
complicações cardiovasculares, respiratórios, gastrointestinais, perda da
capacidade sexual, entre outros. Quanto aos problemas psicológicos causados
pelo seu uso a longo prazo, estão a depressão, ansiedade, irritabilidade,
agressividade, dificuldades de concentração, e sentimentos de perseguição (paranoia).
Quando a dependência se estabelece, o indivíduo limita os seus comportamentos
apenas para a busca e a utilização da droga, pondo de lado todas as outras
atividades. A cocaína e as anfetaminas tem um efeito específico nas vias
dopaminérgicas mesolímbica e mesocortical, e especialmente no chamado sistema
de recompensa, caracterizado pelas grandes estruturas: Segmento ventral
"VTA", Núcleo accumbens e Córtex pré frontal.
Vias de administração e complicações do
uso da cocaína: As principais vias de administração da
cocaína são: inalada, injetável e fumada. Historicamente, o abuso de cocaína
envolvia o comportamento de inalar a forma em pó (sal de hidroclorito). No
final da década de 80, a via injetável passou a predominar, sendo evidência
deste fato o grande número de usuários de cocaína injetável serem pessoas
infectadas pelo vírus HIV. Na década de 90, observou-se o aumento do uso na
forma fumada. Quando a cocaína é processada na forma de uma pasta (free base ou
crack) ela pode ser fumada, sendo volatilizada à altas temperaturas sem nenhuma
destruição dos componentes. A forma fumada leva a droga ao cérebro de maneira
mais rápida que a inalada, já que a inalação requer que a cocaína passe da
corrente sangüínea do nariz, para o coração onde ela será bombeada para os
órgãos do corpo, inclusive para o cérebro. Entretanto, na forma fumada, a droga
faz um atalho passando dos pulmões diretamente para o coração e para o cérebro.
Quanto mais rápido uma droga com poder de dependência chegar ao cérebro, maior
será a chance de ser abusada. Se por um lado a cocaína injetável tem como
complicação mais importante a ocorrência de diversas infecções, por outro lado
a via pulmonar com o crack traz consigo outras complicações como um maior
potencial de dependência e o maior apelo a população mais jovem.
Os efeitos agudos e crônicos do uso da
cocaína: Um dos principais efeitos da intoxicação aguda por
cocaína é a sensação de prazer descrita muitas vezes como euforia. Doses baixas
e iniciais de estimulantes causam estimulação dopaminérgica aguda no centro
endógeno do prazer no cérebro. A sensação induzida de hiperalerta pode ser
confirmada por eletroencefalograma (EEG) e eletrocardiograma (ECG). O EEG
alterado mostra uma dessicronização generalizada das ondas cerebrais. Os
efeitos agudos pode ser descritos como: euforia que frequentemente evolui para
disforia; sensação de energia aumentada; sensação de melhor funcionamento; aumento das percepções sensoriais (sexuais,
auditivas, táteis e visuais); diminuição do apetite; aumento de ansiedade e suspeição; diminuição
da necessidade de sono; diminuição do cansaço e fadiga; aumento da auto confiança, egocentrismo; delírios
de cunho persecutório; sintomas gerais
de descarga simpática (tonturas, tremor, hiperreflexia, febre, midríase,
sudorese, taquipneia, taquicardia, hipertensão). - Se pelo menos dois destes
sinais estão presentes após uma hora de uso, preenchem critérios para intoxicação
por estimulante. Os efeitos patológicos do uso crônico da cocaína podem ser
observados nas diversas esferas: fisiológica, psicológica e
social/interpessoal. Quanto aos efeitos fisiológicos, o uso repetido de baixas
doses de cocaína leva: ao aumento da sensibilidade e potencialização da
atividade motora com reações exageradas ao susto, discinesia, anormalidades
posturais.
Quanto aos efeitos cardiológicos
crônicos observa-se: taquicardia, hipertensão, vaso constrição da artéria
coronariana com diminuição do fluxo sanguíneo, gerando um aumento da incidência
de isquemias durante a abstinência. arritmia, miocardite ou cardiomiopatia
relacionada à catecolamina. Quanto aos efeitos no SNC destacam-se: efeito no
centro termo regulador podendo causar hipertermia maligna, diminuição do limiar
convulsivo, vaso constrição cerebral com aumento de AIT ou AVC, cefaleia
vascular migratória durante a abstinência pode ser associada a desregulação
serotoninérgica, atrofia cortical, especialmente nos lobos frontais e
temporais. Efeitos pulmonares: tosse crônica com secreção preta especialmente
para os usuários de estimulantes fumados, edema pulmonar, pneumonia
granulomatosa com hipertensão pulmonar, "pulmão de crack"
(dortoráxica, hemoptise e infiltrado alveolar difuso). Efeitos nasais e na
face: inflamação e atrofia da mucosa nasal, sinusite crônica, necrose e até
perfuração do septo nasal, ulceração de gengiva devido a aplicação de cocaína
oral. Efeitos do uso durante a gravidez: placenta prévia, aborto espontâneo, sofrimento
fetal.
Com relação aos efeitos na esfera
psicológica, observa-se: Durante o uso crônico de cocaína, ou mesmo após uma
orgia de consumo (binge), sintomas depressivos, desmotivação, sonolência, paranoia
e irritabilidade costumam ocorrer. A cocaína pode induzir ataques de pânico,
inclusive desencadear a Síndrome do Pânico que persiste mesmo após a
interrupção do uso da droga. Durante os episódios de "binge" uma
psicose tóxica pode se desenvolver sem que sejam evidenciados sintomas
psicopatológicos prévios no indivíduo. A fissura (desejo de repetir o prazer
experimentado), juntamente com os sintomas depressivos de abstinência da droga
(crash) podem levar ao uso repetido e compulsivo da cocaína. A cocaína é também
conhecida por piorar a sintomatologia depressiva preexistente, podendo produzir
também uma síndrome psicótica caracterizada por paranoia, prejuízo da testagem
da realidade, ansiedade, padrão estereotipado compulsivo de comportamento e
alucinações vívidas: visuais, auditivas ou táteis. Observa-se ainda que
usuários crônicos tendem a associar a cocaína com drogas sedativas como álcool
para evitar efeitos estimulantes desagradáveis.
Adaptado de: http://www.cemp.com.br/arquivos/98752_66.pdf
Joabe Santos (4).
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