A origem dos opioides e seus efeitos no organismo



O ópio é conhecido desde a pré-história. Os sumérios chamavam-no “planta da alegria”. Egípcios, gregos, romanos e islâmicos usaram-no. Os árabes introduziram o ópio na Índia e depois na China. Os chineses usaram o ópio para controlar a diarreia. No século XIX, havia milhões de chineses viciados em ópio.
Os narcóticos foram introduzidos nos Estados Unidos, no século XIX, pelos trabalhadores chineses que comiam e fumavam ópio. Paracelso reintroduziu o uso médico do ópio na Europa Ocidental. William Collen, em 1808, admitiu que o ópio suspendia o fluxo de mensagens dos nervos para o encéfalo e vice-versa, abolindo a dor. Ele observou que, embora fosse sedativo em algumas pessoas, poderia exibir efeito excitante. Outros acreditavam que o ópio atuava como excitante sempre.
A planta do ópio só foi introduzida no México, na América do Sul e demais países da América Central a partir da Segunda Guerra Mundial. Devido a suas propriedades analgésicas e euforizantes, os opiáceos apresentam um alto potencial de abuso. Drogas que provocam efeito narcótico são também chamadas de opiáceos ou opioides. Opioide é o termo geral aplicado a todas as substâncias com propriedades semelhantes às da morfina. O termo opiáceo é usado para descrever alcaloides analgésicos de ocorrência natural ou semi-sintéticos derivados do ópio.
Entre os narcóticos encontram-se o ópio, um preparado bruto do sumo ou látex das papoulas; a morfina e a codeína, os princípios ativos básicos do ópio, algumas substâncias químicas sintéticas e semi-sintéticas, como a heroína; e também alguns peptídeos encontrados no cérebro. A morfina é o principal e prototípico alcaloide analgésico do ópio. O ópio também contém quantidades menores de codeína. Os opiáceos são usados clinicamente devido às suas propriedades analgésicas. Além dessas propriedades os opiáceos também causam: sedação, euforia, depressão respiratória, hipotensão ortostática, redução da motilidade intestinal, náuseas e vômitos.

Morfina: O primeiro alcaloide extraído do ópio (Papaver somniferum) foi a morfina. Sua fórmula molecular é C17H19NO3. Ela possui um anel benzênico, um núcleo fenantreno e dois grupos hidroxila. É insolúvel em água e apenas ligeiramente solúvel em solventes orgânicos. Os opioides naturais são exemplos de alcaloides (bases nitrogenadas extraídas de cascas, folhas, grãos ou frutos vegetais).


Podem estar na forma de aminas ou como grupo amônio. Quando é sintetizado a partir de aminoácidos e tem ao menos um átomo de nitrogênio em anel heterocíclico, na forma de sal é chamado verdadeiro. Exemplos: morfina e codeína. A falta de morfina durante a guerra levou os pesquisadores alemães à síntese da metadona como seu substituto. A morfina e outros opiatos ligam -se aos receptores de opiatos no cérebro. Endorfinas e encefalinas ligam-se também aos mesmos receptores.
As encefalinas estão envolvidas com a sensação de dor. Acredita-se que as encefalinas ligam-se aos receptores de opiatos e impedem a transmissão dos impulsos dolorosos. A morfina liga-se também aos receptores de opiatos e aumenta o poder anestésico das encefalinas. Opiatos como a morfina causam dependência. O uso crônico da morfina leva à tolerância e à dependência física e psicológica.
Uma complicação frequente observada pela overdose de morfina é o edema pulmonar e a morte pode resultar de parada cardiopulmonar. O tratamento para overdose de morfina inclui a administração de um antagonista do opiáceo, chamado naloxona, que reverte drasticamente os efeitos da morfina.
A abstinência da drogadição à morfina pode ser tratada por meio da administração de metadona, que é um opiáceo oralmente ativo de longa duração. O objetivo é que com o passar do tempo o uso do opiáceo seja substituído pela metadona e então gradualmente esta droga também seja retirada.
A morfina é absorvida pela mucosa intestinal, passa para a corrente sanguínea, atinge o cérebro, onde age no tálamo interagindo com receptores das endorfinas, encefalinas e dinorfinas. Há diminuição da dor, relaxamento e prazer. Quando o efeito passa, busca-se nova dose, começando assim a dependência.
Essa dependência tem a ver com o fato de, nas células, a síntese de Adenosina monofosfato cíclica (cAMP) ser catalisada pela enzima adenilato ciclase. Opiatos e encefalinas inibem a produção dessa enzima, de modo que a quantidade de cAMP nas células diminui. Portanto, as células tentam compensar esse efeito sintetizando mais enzima.
Quando isso ocorre, mais opiato deve ser usado para obter-se o mesmo efeito anestésico. Finalmente, o corpo consegue ajustar a nova quantidade de opiato e novamente a cAMP começará a aumentar. Assim o usuário necessita de quantidades cada vez maiores da droga. Se o opiato é retirado, ao contrário, a síntese de adenilato ciclase não é mais inibida e grandes quantidades de cAMP são produzidas. É a elevada concentração de cAMP que produz os efeitos de abstinência.

Heroína: Da morfina foram sintetizadas outras drogas, como a heroína, que é ilegal e com 90% dos seus usuários dependentes. A heroína é um derivado semi- -sintético da morfina e é dez vezes mais potente que a morfina, sendo capaz de atingir o cérebro muito mais rapidamente. Age no SNC da mesma forma que a morfina e a codeína.
A heroína é a forma de morfina preferida por aqueles que fazem uso abusivo de opiáceos devido ao início rápido de ação. Geralmente é administrada por injeção intravenosa ou subcutânea ou ainda, menos frequentemente, pelo fumo ou insuflação nasal. Como o usuário busca maior quantidade de droga para obter os mesmos efeitos, há maior perigo de overdoses. A abstinência é violenta com dores no corpo, tosse, coriza, suor, lacrimejamento, diminuição de temperatura e convulsões.
A molécula de heroína (diacetilmorfina) é uma molécula de morfina onde os dois grupos -OH são substituídos por grupos acetila (-CO-CH3 ). A heroína em si não é ativa, mas é rapidamente convertida a 6-acetilmorfina, que por sua vez é hidrolisada em morfina.
Tanto a 6-acetilmorfina como a morfina são farmacologicamente ativas. Na codeína, também derivada da morfina, o grupo hidroxila (–OH) do fenol da morfina é substituído por –OCH3 . Os grupos hidroxila na morfina fazem com que ela seja capaz de interagir por meio de ligações de hidrogênio com a água, tornando-a dessa forma solúvel em ambientes aquosos.


Na heroína, esses grupos são substituídos por grupos acetila, perdendo-se um pouco da solubilidade em água, mas aumentando a solubilidade em lipídeos. Que diferença isso provoca? A heroína e a codeína atravessam com maior facilidade as membranas lipídicas e a barreira hemato-encefálica chegando em maior concentração que a morfina no encéfalo, sendo assim mais potentes. O grupo fenólico é importante para que a morfina consiga interagir com os receptores. Por isso, no cérebro, a heroína e a codeína são transformadas em morfina, do contrário não poderiam interagir com estes receptores.

Como agem os narcóticos

Existem, no organismo, receptores específicos que interferem, ou seja, fazem a mediação dos efeitos narcóticos. Há vários tipos de receptores designados por letras do alfabeto grego: μ, σ, δ, κ. Os receptores μ e κ são responsáveis pela maioria dos efeitos no SNC.
Os receptores σ, que também podem ser afetados pelo alucinógeno fenciclidina (PCP) respondem por alguns efeitos indesejáveis, como a disforia, que é o oposto da sensação de euforia, e as alucinações. Os efeitos dos narcóticos resultam da interação da droga com os receptores específicos em várias áreas do SNC, incluindo o circuito de recompensa e a medula espinhal.
O cérebro contém os neurotransmissores de opioides, que são os peptídeos conhecidos como endorfinas e encefalinas. O uso crônico de narcóticos pode produzir uma tolerância significativa, dependência no usuário e também no feto em gestação. A parada repentina do uso em um usuário que já desenvolveu tolerância pode causar efeitos de retirada muito intensos e desagradáveis, mas sem risco de vida. Os sintomas associados à retirada incluem irritabilidade, náusea, vômitos e insônia.






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